domingo, 15 de novembro de 2015

A teoria da burocracia de Max Weber ou como organizar a gaveta das meias

Um destes dias, numa tentativa de arrumar uns papéis que se vão acumulando ao longo do tempo, tropecei na Teoria da Burocracia de Max Weber. Tentava eu, em vão, colocar em prática os seus ensinamentos: ser organizado e eficiente. A tarefa não tem sido fácil já que não sou organizado. Trata-se de uma fraqueza com a qual lido muito bem. Talvez os que partilham os espaços comigo não sejam da mesma opinião. Tendo crescido numa casa com muita gente e ainda por cima com muitos homens (inevitável comentário sexista) a organização era a possível. Convivia bem com isso. Mais tarde, quando comecei a partilhar afetos e despesas tive alguma dificuldade em memorizar os “ sítios” das coisas. Desde a gaveta das meias, ao correio rececionado, aos jornais do dia anterior e acabando nos vários tipos de massa arrumados em caixinhas, a arrumação das roupas respeitando a estações do ano, tudo foi uma aprendizagem mais ou menos complicada.
Mas porquê Max Weber? Nas nossas ocupações profissionais estamos hoje naufragados numa burocracia asfixiante, não a burocracia preconizada pelo intelectual, jurista e economista alemão mas uma outra conceção pejorativa, uma disfunção do modelo organizacional. Para o comum dos mortais, burocracia é entendida como uma organização lenta e vagarosa na qual a acumulação de papelada se multiplica e se avoluma, impedindo soluções rápidas e eficientes. Como referido, a visão do senso comum sobre burocracia é uma disfunção do sistema burocrático mas não é o sistema em si mesmo. O Sr. Weber, falecido em 1920, queria um modelo autoritário, hierarquizado, com tarefas bem definidas, com comunicações e atos devidamente formais e com funcionários especializados e despersonalizados, características presentes nas organizações dos nossos dias. Refletindo um pouco, parece-me que o modelo se desvirtuou porque se colocou a tónica nos objetivos e não nos meios para melhorar o desempenho de todos. As organizações públicas são hoje escrutinadas em várias frentes. Sofrem pressões internas e externas que exigem respostas permanentes. Respondem verticalmente a modelos políticos cada vez mais voláteis, obedecem a doutrinas e ideologias nem sempre claras mas irrevogavelmente presentes. No meio deste turbilhão, tomam-se opções organizacionais que prejudicam a eficiência e sobretudo prejudicam a realização pessoal sempre preterida em prol da organização. Nas organizações dos nossos dias não há lugar à espontaneidade, as relações despersonalizaram-se, deixamos de ter colegas de trabalho pois as pessoas com quem lidamos profissionalmente são meros ocupantes de cargos hierarquizados. Perdemo-nos em normas, formulários e plataformas informáticas e outros maravilhosos trava eficiência. A informática, erradamente, tem servido para emperrar a engrenagem. Esta suposta ferramenta facilitadora tem servido para acumular registos e mais registos que nem sempre são analisados de forma adequada para, formalmente, melhorar procedimentos. Vulgarizou-se o “ manda-me por mail”, o upload, o registo electrónico, a base de dados… e ninguém contabiliza o tempo que isso nos consome. Será esta a eficiência pretendida? Não me parece que seja. As malditas evidências que constantemente nos pedem só terão a utilidade desejável se forem devidamente tratadas e analisadas e daí se extraírem os melhoramentos necessários.
Para terminar, dizer que nem todas as organizações são iguais. Costumo dizer que uma escola não pode ter os mesmos critérios organizacionais que uma fábrica de parafusos. Se o parafuso sai torto ou com a rosca defeituosa, não será difícil encontrar a causa do defeito mas na escola, os parafusos são outros e desenganem-se aqueles que acham que os podemos fabricar com recurso à comparação entre contextos análogos. Esta análise ficará para outra crónica.
Entretanto, façam o favor de se organizarem, de serem eficientes ou então façam como nas lojas comerciais, chamem o supervisor que ele passa o cartão e resolve tudo.

Rui Machado

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